Impactos da Inteligência Artificial nas Relações de Trabalho

Automação e Transformação nas Estruturas Jurídico-Trabalhistas

DIREITO DO TRABALHO

Victor Hugo Abreu

12/27/20242 min read

Asimo robot doing handsign
Asimo robot doing handsign

A introdução da inteligência artificial (IA) no âmbito empresarial tem gerado repercussões profundas nas relações laborais, implicando alterações significativas nos contratos de trabalho e na execução das funções pelos trabalhadores. A automação de tarefas anteriormente realizadas por seres humanos tem desafiado o paradigma clássico das relações empregatícias, impulsionando a necessidade de novos arranjos jurídicos e a criação de categorias profissionais inéditas.

De acordo com levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aproximadamente 37% dos postos de trabalho no Brasil estão suscetíveis à substituição ou modificação pela IA generativa, um cenário que evidencia a necessidade de revisão e atualização das normas jurídicas para acomodar tal realidade. Esse dado reforça a importância de uma abordagem jurídica preventiva e de políticas públicas que promovam a transição justa e sustentável para o uso de tecnologias disruptivas (Época Negócios).

Entre os impactos mais evidentes, destaca-se a flexibilização dos contratos laborais. A adoção de sistemas baseados em IA tem conduzido empregadores a optar por regimes contratuais alternativos, como contratos temporários, intermitentes ou de prestação de serviços autônomos. Essa tendência, embora possa oferecer vantagens de curto prazo às empresas, suscita controvérsias quanto à caracterização do vínculo empregatício e aos direitos trabalhistas correlatos, especialmente diante da jurisprudência consolidada sobre a subordinação e habitualidade como elementos da relação de emprego.

Ademais, a redefinição das funções laborais constitui um desafio premente. Tarefas administrativas e operacionais, anteriormente desempenhadas por trabalhadores, têm sido progressivamente delegadas a sistemas automatizados. Por outro lado, há um aumento na demanda por profissionais especializados em análise de dados, cibersegurança e desenvolvimento de algoritmos. Esse panorama exige políticas públicas voltadas à qualificação e requalificação da força de trabalho, de forma a preparar os trabalhadores para ocupações compatíveis com a nova realidade tecnológica.

No plano normativo, a ausência de regulamentação específica sobre o uso de IA nas relações de trabalho representa um risco de ampliação das desigualdades sociais e exclusão no mercado. Trabalhadores menos qualificados tendem a ser os mais vulneráveis à automação, o que reforça a necessidade de instrumentos legais que assegurem o equilíbrio entre inovação tecnológica e proteção social.

Além disso, a ética no uso da IA é tema central nas discussões jurídicas. Questões como a transparência nos processos de seleção automatizada de candidatos, a não discriminação e o respeito à privacidade devem ser observadas para garantir que a adoção da IA esteja em conformidade com os princípios constitucionais e os direitos fundamentais.

A transformação promovida pela inteligência artificial no âmbito corporativo exige respostas rápidas e eficazes do ordenamento jurídico. Regulamentações claras, estratégias empresariais inclusivas e a promoção de debates éticos são fundamentais para equilibrar os benefícios da tecnologia com a garantia de relações de trabalho justas e sustentáveis.